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Palestra debate mercado de trabalho para pessoas trans e travestis

Para marcar a celebração do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+ (28 de junho), o Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região abriu a Sala do Tribunal Pleno, na tarde da quinta-feira (27/6), para receber a palestra “A inserção de pessoas trans e travestis no mercado de trabalho”. O encontro foi uma organização conjunta do Subcomitê de Acessibilidade e Inclusão, do Subcomitê de Igualdade de Gênero, Raça, Diversidade e Equidade, da Divisão de Saúde - Seção de Serviço Social e da Escola Judicial da instituição. As mulheres trans Samantha Vallentine Souza e Jermaryr Cardoso dos Santos foram as palestrantes do evento.

A gestora regional do Pacto Nacional pela Equidade Racial (CNJ), coordenadora do Subcomitê de Igualdade de Gênero, Raça, Diversidade e Equidade do TRT-6, titular da 1ª Vara do Trabalho de Olinda, juíza Ana Cristina da Silva, fez a abertura do encontro. “Temos um Judiciário branco, heteronormativo, cis e cristão. É preciso ‘furar a bolha’, conviver com novos conceitos, baseados na alteridade e na capacidade de compreender a dor de todos”, afirmou. Na sequência, apresentou o vídeo de boas-vindas da ativista e juíza do trabalho Renata Nóbrega.

Na primeira palestra da tarde, a pesquisadora em gênero, graduada em Ciências Políticas e mestranda em Antropologia pela UFPE, Samantha Vallentine Souza, apresentou seu Trabalho de Conclusão de curso, transformado em e-Book, “Transnarrativas sobre a relação das travestis e pessoas trans e a empregabilidade”. Expulsa de casa aos 13 anos de idade, utilizou o seu exemplo pessoal para explicar a perversa realidade imposta na vida das travestis e pessoas trans no Brasil. “Na infância, somos submetidas a todos os tipos de violências físicas e psicológicas, até sermos expulsas do lar, ainda adolescentes. Sem casa, não temos escola. Sem escola, não conseguimos formação. Sem formação, não conseguimos chegar ao emprego formal”, constata. “Esse é o sistema de desempregabilidade, operado desde o desamparo familiar, depois estatal, chegando até as nossas mortes, primeiro a social, e por fim, a morte física, normalmente por assassinatos”, advertiu.

A pesquisadora explicou que, em seu trabalho de conclusão, se utilizou das “(trans)narrativas” das travestis e das pessoas trans, dissecando conceitos como “transepstemicídio”, “cisssexismo”, “transfeminismo” e “morte social”. Este último, segundo a autora Sayonara Nogueira, é um contínuo processo de exclusão social sobre o qual é submetida a comunidade LGBTQIAPN+ desde os primeiros anos de vida. Samantha lembra que os aspectos étnicos-raciais e de classe são fundamentais para entender estas dificuldades. “No Brasil, quem continua sendo assassinada é a mulher negra, trans e periférica”, constata. Dados do censo 2020 da Redetrans Brasil apontam que apenas 32% dessa população consegue concluir o ensino médio, sendo que 34% não consegue sequer concluir o ensino fundamental. Como resultado prático, 89,5% das travestis e mulheres trans são obrigadas a sobreviver nas ruas, como profissionais do sexo.

Samantha explicou que os dados oficiais (IBGE) registram poucos programas e projetos e que há um completo negligenciamento dos poderes públicos nas áreas de educação, qualificação e empregabilidade para as travestis e pessoas trans no Brasil. Para a estudiosa, as iniciativas nessas áreas e a destinação de verbas para auxiliar as pessoas – normalmente forçadas a viver fora do abrigo familiar – são fundamentais para quebrar o perverso ciclo de exclusão, garantindo um futuro onde possa existir empregabilidade para a comunidade.

“Cabeleireira com muito orgulho” – A tarde foi finalizada com o depoimento de Jermaryr Cardoso dos Santos, mulher trans, 53 anos, graduada em Ciências Exatas pela UFRPE, professora, cabeleireira “com muito orgulho”, atualmente estudante de Psicologia. Confirmando a história da maioria das trans do país, Jermaryr também foi expulsa de casa na adolescência. Acolhida por dois “solteirões”, donos de um salão de beleza, recebendo casa e comida, mediante ajuda doméstica e no salão.

Com muito esforço, equilibrando-se nos estudos e na sobrevivência, foi aprovada como professora no município de Paulista. “A dificuldade maior foi a aceitação de um corpo trans no ambiente escolar”, lembra. Com o tempo, gestores sempre “sugeriam” que ela permanecesse em atividades internas, na secretaria, para afastá-la da sala de aula e do convívio com os alunos. “Apesar de ser professora de matemática, física e química, só era escalada para eventuais substituições”, disse. “Mas, com os alunos, nunca sofri preconceito e resistências”, ponderou. Insatisfeita, aderiu a um Plano de Demissão Voluntária, voltando a atuar, exclusivamente, na atividade de cabeleireira - que sempre lhe garantiu grande orgulho e satisfação. “Meu desejo seria ter sido plural, atuando nas áreas da beleza e da educação ao mesmo tempo”, refletiu. “O Brasil lidera, há 16 anos, o ranking de país que mais mata mulheres trans e travestis no mundo. Mas, seguimos lutando, para conquistar nossos direitos básicos”, concluiu.  

Álbum de fotos

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Matéria de teor meramente informativo, sendo permitida sua reprodução mediante citação da fonte.
Tribunal Regional do Trabalho da Sexta Região (TRT-6)
Coordenadoria  de Comunicação Social (CCS)

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Texto: Gutemberg Soares / Foto: Roberta Mariz